Na Creche Etelvina, as crianças do Terceiro Período retornaram das férias de julho desafiando uns aos outros. Segundo a Vanessa, educadora da turma, era comum escutar entre os pequenos: “Duvido que você consiga pular até ali!” “Eu vi um cara dar um pulão, depois um mortal e caiu em pé na grade perto de casa” Não demorou muito as crianças manifestarem o desejo de aprender a “dar mortal” e pular “bem alto”. Alguns meninos cruzavam a creche saltitando, afirmando serem o “Homem-Aranha”!!
Observando a curiosidade das crianças e se debruçando atentamente sobre esse desejo de desafiar os limites do corpo, a Lorena, oficineira de recreação, associou a descrição e tentativas de movimento das crianças ao Parkour.
Parkour tem origem na palavra francesa “parcour” que em português significa “percurso”. Trata-se de uma modalidade esportiva inspirada em técnicas de salvamento e fuga de emergências usadas por bombeiros, que inclui movimentos de correr, subir, saltar e pular superando obstáculos que já estejam presentes em determinado espaço ou ambiente. Lorena então decidiu procurar um instrutor de Parkour, com o intuito de apresentar, com segurança, a modalidade para as crianças da Creche Etelvina.
Encontramos o Thiago que voluntariamente se disponibilizou para apresentar o Parkour para a criançada! Porém, com uma recomendação: “Melhor não fazermos na creche, pois as crianças vão querer repetir os movimentos sozinhas. Podemos ir a um parque?”
Logo fomos todos ao Parque Primeiro de Maio, primeiro passeio da turma após a pandemia!
Reunimos todos na escada para que o Thiago pudesse fazer alguns combinados: “Parkour não se pratica sem o acompanhamento de um profissional; Parkour não se pratica sozinho em casa ou na creche e Parkour não se pratica sem ter um adulto por perto”.
“Para começar vamos fazer a brincadeira do siga o mestre!” e Thiago foi puxando a fila e caminhando pela arquibancada, dando início a parte prática da oficina. Segundo ele, essa brincadeira inicial é fundamental para saber até onde pode ir com a turma. Foi quando observou diversas características individuais e do grupo que participava: se as crianças conseguem escutar primeiro a explicação, prestar atenção na demonstração e só depois fazer; identificar quem possui mais facilidade e os que precisam de apoio para os movimentos.
A brincadeira começou com a caminhada pela arquibancada, depois com o desafio de pular do degrau para o chão e em seguida partimos com as crianças para explorar o parque. A turminha caminhou na quadra, passou pelos brinquedos, andou sobre bancos estreitos, subiu em mesas de pedra e rampas, desceu no escorregador. Começaram sem dar as mãos, depois tinham que fazer o caminho de mãos dadas em dupla, depois em trio e depois em quarteto, o que tornava mais desafiadora a realização dos movimentos.
Antes do desafio final tivemos um intervalo para lanchar, ir ao banheiro e descansar um pouco. O desfecho proposto pelo Thiago foi que todas as crianças subissem em um brinquedo mais alto, parecido com uma gangorra, em que ninguém poderia colocar os pés no chão. Foi o movimento que levou mais tempo para ser concluído pelas crianças, mas quando finalizaram todas comemoraram, uns se abraçaram e outros diziam: “você viu o que conseguimos fazer? subimos ali e ninguém estava com o pé no chão!”
No dia em que reencontrou a turma, Lorena ouviu que “foi muito legal!”, que gostaram muito e perguntaram se vai ter outra vez!
Certamente foi uma experiência que permanecerá viva na memória de todos, pois foi uma resposta ao que estava pulsando no coração das crianças.