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Reunimos toda a equipe na Creche Jardim Felicidade para a Retomada – “O que é EDUCAR?” com Domenico Tallarico. Um encontro bonito e que nos ajuda a retomar o nosso método, o sentido do trabalho e educa o nosso olhar.

O momento musical, na abertura do encontro, ficou por conta do Marco Aur.

Clique aqui e assista o vídeo em nosso Instagram.

As músicas cantadas foram:
• Nada sei – Kid Abelha
• Há tempos – Legião Urbana
• Alucinação – Belchior
• Admirável Gado Novo – Zé Ramalho

Rosetta aproveitou o encontro para apresentar e dar as boas vindas a Luisa Cogo, que retorna ao Brasil para assumir a coordenação geral e ser membro do conselho diretivo das Obras Educativas Padre Giussani. Luisa, além de ser amiga de longa data de Rosetta, é pedagoga e foi diretora por 12 anos em uma escola na Itália. A primeira vez dela no Brasil foi no inicio dos anos 2000, quando atuou em um projeto da AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) e realizou alguns trabalhos em nossas creches. Rosetta fala que já tinha muito tempo que desejava este retorno, destacando a alegria e a importância de poder contar com a presença da Luisa em nossas Obras.

Depois de apresentar a nova Coordenadora Geral das Obras, Rosetta apresentou Domenico e disse que não o conhecia, mas quando escutou um testemunho dele na internet logo pensou: “me interessa conhece-lo”. Domenico é professor de Ensino Religioso e mora em Cesena, cidade da Itália onde mora as amigas de Rosetta. E coincidentemente no período que Rosetta procurava para convida-lo a vir nas Obras, Fernanda estava na cidade e conheceu Domenico em um encontro com alguns amigos do Movimento Comunhão e Libertação.

O que é EDUCAR?

Domenico iniciou contando a sua experiência na enchente que atingiu Cesena e que assistiríamos a um vídeo, destacando: “Cada um de nós é feito para ir descobrir a realidade.

“O vídeo mostra uma criança cega, que nunca viu ninguém levantar e andar, porém ela levanta e anda para poder ir descobrir a realidade. E essa é uma premissa da educação, nós fomos feitos para descobrir a realidade.

Foto com Luisa Cogo, Rosa Brambilla, Domenico e Padre Giovanni.

Clique aqui para ler o relato de Domenico Tallarico.

E porque existem tantos problemas na educação? Com os pais e com os professores.

Primeiro ponto é que podemos ser pais, geradores da vida, mas frequentemente o filho nasce e não é ajudado a crescer. O problema de hoje das crianças e jovens é porque são órfãos. Tem pais e mães, mas são abandonados assim mesmo. Porque os adultos não sabem mais o motivo de viver. Enquanto as crianças e os jovens desejam ir ao encontro da realidade, mas os adultos não ajudam, pois se distraem e pensam em outras coisas.

Existe um poema que me marcou e Giussani citava frequentemente: “Os dois órfãos” de Giovanni. O poema fala de duas crianças que perderam os pais, o pai morreu assassinado. Cito dois trechos:

“Nada nos conforta e estamos sozinho na noite escura”

“Agora não tem mais alguém que goste de nos, que nos perdoe”

Muitos dos alunos se sentem e percebem em uma noite escura, sem algum ponto de referência. Sobretudo, não tem ninguém que goste deles.

Vejam alguma das perguntas dos alunos:
“Por que é tão difícil levantar pela manhã, sabendo que o dia será terrível??”

“Por que eu me sinto tão sozinha, apesar de estar sempre com alguém?”

“Por que é difícil encontrar algo que me faz feliz?”

“Por que sentimos este vazio que não deixa ir pra frente? Mesmo tendo uma família que nos quer bem e tendo saúde. Não entendo este vazio!”

Estas perguntas eu também tinha quando jovem. Giussani uma vez falou sobre uma jovem que suicidou-se em uma estação rodoviária e deixou um bilhete escrito: “na minha vida eu tive tudo, de necessário e supérfluo, mas não o indispensável”

É interessante se perguntar o que é necessário, supérfluo e o indispensável?

Uma outra frase escrita para os pais era: “Vocês fizeram que eu e o mundo externo fossemos duas coisas totalmente separadas.”

Ela tinha o desejo de encontrar a realidade, mas os pais colocaram um mundo entre ela e a realidade. Por isso chegou a noite escura. O grito da jovem é o mesmo grito que o meu e dos meus alunos.

A outra pergunta é: o que nos tira desta noite escura da vida? O que torna a vida fecunda?

Eu entendi bem através do exemplo que a Rosetta contou no começo. Minha esposa é psiquiatra e um certo dia me ligou para contar de algo estranho no hospital, respondi estupidamente que é normal isso onde ela trabalha. Ela me contou que desta vez era mais estranho, pois uma jovem havia tentado suicídio quatro vezes e enquanto faziam a entrevista, a jovem disse para esposa (do Domenico) que já havia visto o olhar dela e era o mesmo olhar do professor de religião da escola. Durante a conversa descobriram que o professora era o marido (o Domenico).

Quando minha esposa chegou em casa e vi a foto da jovem, lembrei que foi minha aluna a mais de 5 anos e era uma jovem com muitas perguntas. Minha esposa disse que a jovem lembrava de uma frase que eu falei: “que não devíamos perguntar porque se faz alguma coisa e sim para quem fazemos as coisas”.

Eu fui visitar a jovem e enquanto ela contava a história, eu chorava e a jovem falou: “alguém ainda chora por mim”. Voltei para casa me perguntando que olhar é este, que eu e minha esposa temos. Me fiz essa mesma pergunta quando Rosetta me convidou.”

Outra experiência que Domenico compartilhou foi de um aluno muito agitado e que todos comentavam sobre. No primeiro dia de aula com este jovem, Domenico perguntou: “porque você é assim?” E o jovem respondeu dizendo: “Porque eu sou um c****”. O professor retrucou explicando: “não é, alguém te disse que você é assim.” Depois disso, nos outros dias, com todos professores ele ficava agitado em sala de aula, mas no dia da aula (com Domenico) ele não estava e tiveram de procurar para levar para sala. Domenico conta que ao encontra-lo disse ao jovem que queria estar com ele e quando volto para sala ficou escutando. No final da aula, o professor agradeceu ao jovem por ficar na sala. Em outra semana o garoto ficou na sala e pediu para passar os slides, mas quando acabou a aula disse que iria embora da escola. No dia dele partir, Domenico foi despedir dele, enquanto todos os outros festejavam.

A partir dessas experiencias com os jovens, Domenico retomo a pergunta: “que olhar é este?

E citou a passagem da bíblia com a historia de Zaqueu. Pois talvez talvez Jesus ficou marcado com ele, pois era um mafioso e subiu na arvores, provavelmente porque alguém em baixo ficaria feliz em mata-lo. Jesus olhou e disse que iria a casa dele, foi e não disse para ele mudar, apenas com um olhar desejoso de bem. Zaqueu mudou! Jesus não disse para ele mudar, mas com um olhar de bem, ele mudou.

Este olhar é algo extraordinário.

Domenico também contou sobre o tumor que teve na perna e precisou usar uma ajuda mecânica, o que deixou os pais dele triste. E falou que quando jovem não ia para escola, ficava girando por ai e neste ano (do machucado na perna) foi reprovado e teve o verão mais bonito da vida dele, pois foi onde encontrou algumas pessoas do movimento (Comunhão e Libertação) e foi convidado para as férias junto. Como ele não tinha dinheiro para ir, um pároco lhe deu o dinheiro. Quando volto, no final das férias, descobriu que teria outra e foi de carona com um padre. Ou seja, teve a reprovação na escola e duas férias pagas por outras pessoas. Domenico se sentiu olhado como Zaquel e nunca mais abandonou os amigos do movimento.

Terceiro ponto: Como se educa?

Assistimos um segundo vídeo, onde um menino oriental, observava os pais e as pessoas na rua com um binoculo. Depois este garoto foi sozinho andar pela rua, atravessando linhas de trem, passando por passagens subterrâneas e comprando algo que precisava.

Domenico acredita que se fosse na Itália, não seria possível fazer igual o menino do vídeo e destacou a felicidade do menino. Um semblante tranquilo, sem medo. Em seguida falou sobre a educação dos pais e destacou: “Somente quem anda certo sobre a vida e sobre a realidade, pode educar. Certamente, o menino seguiu os passos do pai, o menino seguiu pois o pai estava certo de percorrer o caminho. Educar significa deixar algumas pegadas. Não se trata de obriga-los a percorrer aquele caminho. Os filhos poderão enfrentar a realidade, se já viram algum adulto seguros e felizes.

E porque hoje é tão difícil educar? Pois faltam adultos seguros!

Durante uma viagem longa de carro brinquei com meu filho que se ele for, eu serei. Eu dizia ‘eu sou uma pena’ e ele dizia que seria um caderno, assim brincamos por muito tempo. Viajamos observando e procurávamos algo na realidade para dizer.

Na realidade sempre tem algo bonito!”

A coisa mais bonita que Domenico disse ter ensinado aos seus filhos é olhar o por do sol. Ele contou que um dia passou como dever de casa, para os alunos, subir a montanha da cidade e depois contar o que viram. Outro dia a turma procurou por ele no intervalo para contar que fizeram, que foi bonito e nunca mais viu a cidade da mesma forma.

Com este relato ele trouxe mais uma pergunta: “Se eu sou feliz, o que eu deixo para os meu filhos, meus alunos?

Educar significa mostrar ao outro para onde olho. Porque se forem trabalhar só para ganhar o dinheiro, as crianças percebem isso em um segundo e vão aprender que trabalhar é somente levar o trabalho para casa. Podem discursar o que quiser, mas se o comportamento for diferente, os meninos aprendem o comportamento. As crianças estão com o binóculo te olhando.

Se eu venho para a creche e o porteiro me abri o sorriso, como vi hoje. Que bonito é entrar neste portão, eu percebo imediatamente. Se estou fazendo a limpeza e sou feliz com aquilo que faço, pois faço pelas crianças elas veem isso e estão felizes de estar ali. É isso o educar.

Não é o que fala, mas o que se faz. Educa muito com o que se fala, mas se educa muito mais por meio daquilo que a gente é. Ninguém educa sozinho, mas educa em um lugar. E este lugar é esplêndido!

Papa Francisco: “Por que eu amo a escola? Eu ouvi dizer que ninguém cresce sozinho e é sempre um olhar que ajuda a crescer. Amo a escola pois é sinônimo de abertura a realidade. Para educar um filho é preciso uma aldeia. Para educar uma criança, precisa de muita gente e todos em sua volta educam. Mesmo que meus pais sejam incapazes, eu posso seguir um outro. Este lugar é uma aldeia, alias eu digo que estes lugares são os novos mosteiros.”

Papa Francisco

Depois de citar o Papa, Domenico explicou que na Europa, anos atrás, a Europa renasceu por causa dos mosteiros.

“O bonito deste lugar é fruto deste amor que vocês colocam nisso que fazem. É este amor que fazem as crianças crescerem com esperança, pois percebem o olhar de amor. Podendo alguém ate se tornar papa.

O último ponto: pode acontecer com vocês, se tornarem seguidores de seus filhos.

Para este ponto ele traz a experiência de quando um jovem que se matou na cidade que moram e o seu filho reuniu os amigos para rezar pelo jovem. Domenico foi até a igreja que estava cheia e viu o filho conduzir as musicas. No final foi surpreendido com o pedido do filho: “pai, quero ir conhecer os pais do jovem” e Domenico disse que não. Dias depois encontrou com o pai (do jovem morto) na escola e contou o desejo do filho de conhece-lo. O pai disse que sim, pois aquele gesto na igreja foi o olhar de Deus pela família e pediu que fossem ao funeral.

Domenico conta esta história com lagrimas nos olhos, visivelmente emocionado, afirmando o aprendizado com o filho. Finalizando sua apresentação agradecendo e dizendo: “Se ficarem fieis ao olhar que perceberam aqui (na retomada) vocês vão viver coisas grandes, digo isso pois eu vivi.”

Assembleia

Perguntas feitas para o Domenico:

Como sua paternidade influencia na educação dos seus filhos e como a educação do seus alunos influencia na sua paternidade? 


Daniela, Creche Gilmara Iris

Como mãe fiquei pensando: quais seriam os meu telefones celulares? As preocupações são o meu celular, não necessariamente o aparelho celular. Isso me provocou muito e estendo a pergunta para as educadoras: quais seriam os celulares pedagógicos?


Beth, São João Del Rei

Percebo que as crianças (0a6 anos) tem pais infecundos que não ajudam os filhos a crescer. Como saber se o que estou fazendo, ou sendo, ajuda essas crianças? Sendo que a realidade de muitos é diferente do que vivem e aprendem na creche. 


Natalice, Creche Gilmara Iris

Como fazer que um bom exemplo seja maior e tenha mais força que um mal exemplo?


Vanessa, Creche Jardim Felicidade

No contexto atual, onde tudo se resolve de forma virtual. Como garantir ou não perder o essencial, sem fugir da realidade em que as pessoas vivem?


Padre Cássio

Como foi dito, se alguns pais são incapazes de deixar pegadas para essas crianças, nós (como educadores) somos responsáveis por deixar essas pegadas. Dito isso, trabalhamos também com as famílias (seguindo o método das Obras). 

Como ajudar os adultos, que já percorreram um caminho, a retomar a importância deste olhar a um outro que eles não tiveram?  


Adriana, Creche Dora Ribeiro

Educar as crianças pequenas parece ser fácil. O problema maior é com adolescentes que tem tudo que se acham necessário, famílias que os querem bem, porem eles vivem um vazio. O que podemos fazer, mais, para trazer estes jovens para perto da gente?


Sônia, Creche Etelvina

Respostas de Domenico Tallarico:

“Olho meus alunos e meus filhos da mesma forma, mas certamente meus alunos me falam mais coisas que meus filhos. Lá em casa não temos televisão, durante o jantar cada um conta o que ocorreu durante o dia. Frequentemente nossos filhos contam o que aconteceu com eles durante o dia. Percebi que estarmos juntos assim, educa. A minha vida é única, não existe o professor e o pai, sou um só.

Eu não sei o que os meus filhos fazem. Nunca fiquei procurando saber quanto meus filhos tiraram nas provas, porque não é isso que importa. Pois eu tenho certeza que tem alguém, que ama os meus filhos mais do que eu e por isso eu confio.

Nós perdemos a oportunidade de educar, quando não estamos seguindo aquilo que é verdade para nós. Para saber se aquilo que educo as crianças (educando) está sendo proveitoso, basta se perguntar se aquilo serve para você (educador).

Como hoje Jesus me procurou na minha escola? Frequentemente vem por meio de um aluno e me conta algo que aconteceu, um fato desagradável que aconteceu na casa ou algo bonito que viu ou algo que entendeu na exposição.

Eu estou ensinando para eles, mas certamente estou ensinando para mim. São eles que me ajudam. Se aquilo que transmito dará fruto, não depende de mim, pois é um Outro que atua.

Quando se trata da educação não vai bem dizer como se faz.

Quanto menor é a criança, mais percebem que o educador é fraco e ai a turma massacra o professor.

A tecnologia me ajuda a estar em relação com os alunos, porque realmente é um mundo e não podemos não estar neste mundo. Existe uma preocupação, até mesmo no mundo virtual, de contar apenas aquilo que é importante no mundo real. Para vir ao Brasil, eu disse a todos os meus alunos que estava vindo e falei para eles me seguirem, pois irei mostrar algo de belo. Porem estou preocupado, porque o mundo virtual rouba o tempo das crianças e jovens, o que os torna solitários. Sobre isso é necessário educar a si mesmo e os pais. Pois eu vejo muito resultados ruins, a respeito da falta de educação no mundo virtual. Sobre tudo após a pandemia.

A solidão esta arruinando muitos meninos. É preciso oferecer uma proposta educativa mais bonita que o mundo virtual. Pois é preciso ter atenção, pois o virtual pode se tornar uma droga e precisamos alerta-los sobre isso. E educa-los também naquele mundo.

É preciso educar os pais para o que é indispensável na vida.

Todos nos temos medo de ser julgado, mas não temos medo de ser amados. Por isso é preciso educar com um amor verdadeiro. Se vocês tem este amor verdadeiro para as crianças, os pais percebem que se olha para os filhos com amor. Assim começa uma mudança também para os pais.

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Ariane, Padre Giovanni, Rosa Brambilla, Domenico Tallarico, Fernanda Campolina, Luisa Cogo e Vanessa.