Uma manhã de encontro, reflexões, músicas e aprendizados, assim retomamos aos trabalhos em 2022 e mais uma vez com a grata companhia da Silvia Brandão compartilhando muita coisa com a nossa equipe. Depois de nos ajudar a olhar para as coisas e para a realidade em 2021, este ano ela falou sobre “Fazer Experiência” em uma transmissão ao vivo no Youtube das Obras Educativas Padre Giussani. Também fomos agraciados com o talento musical de Renato Boechat e com a companhia de todos os amigos presentes.
Nosso encontro começou com a fala do Conselho dando as boas-vindas, agradecendo a companhia da Silvia e explicando que o motivo de nos encontrarmos virtualmente é por obedecermos a realidade, devido a situação (pandemia) em que vivemos onde não é recomendado reunir as equipes das creches presencialmente.
O primeiro momento musical foi com o Renato cantando as músicas: “Meu mestre Coração” de Milton Nascimento e “O que é, o que é” de Gonzaguinha. Em seguida Rosa Brambilla (fundadora) iniciou os trabalhos destacando um trecho da primeira música:
“Coração me ensina a coragem de viver
me joga no mar de amar
nessa água boa eu irei navegar
e eu sou um aprendiz
que segue seu mestre aonde ele for”
– Meu mestre Coração” de Milton Nascimento
Rosetta desejou a todos bom trabalho e que possamos seguir, “ter o desejo de aprender, ter o desejo de seguir o mestre, porque seguindo é que nossa humanidade floresce”. Em seguida Vanessa (coordenadora educativa) agradeceu ao Renato pelo sim e por trazer beleza ao nosso encontro e também a nossa amiga Silvia (psicóloga), que participa novamente da retomada para nos “ajudar a alcançar o sentido que tem a experiência.”
Para iniciar a conversar e nos ajudar a definir “O que é experiência?”, Silvia nos convidou a assistir um trecho do filme “Os Miseráveis” de 1998 e destacou a surpresa do rapaz (Jean Valjean) em liberdade condicional de saber que tem um desejo.
Após assistirmos o encontro entre o bispo e um condenado, ela destacou o diálogo entre eles. Onde o condenado se sentiu olhado com humanidade e descobriu um desejo, de que ele tem um coração. Foi a partir da análise desta experiência que Silvia começou a responder à pergunta dizendo que a
Para exemplificar mais, ela compartilhou o que dizia com os seus alunos:
“Quem sabe mais o que é o casamento? Alguém como Vinícius de Morais, que teve nove esposas e incontáveis casos de amor, ou alguém que ficou 38 anos casada com a mesma pessoa, como eu. Quem Sabe? E aí a gente conversava: depende de como viveu o casamento! Podemos empurrar com a barriga, sem olhar para aquilo. E aí não fazemos a experiência.”
Como as coisas mudam e podemos aprender coisas novas, novos sentidos, Silvia ressalta que as pessoas devem se perguntar: O que eu aprendi?
“É preciso avaliar, julgar e compreender aquilo que a gente vivenciou.”
E assim Silvia nos ajuda a compreender porque nos é dado e o que é o coração. Para que possamos julgar e avaliar, a partir do conjunto de desejos e exigências estruturais que temos em nós.
“Todos nós nascemos com o desejo de felicidade, de amor, de justiça…Esse tambor (coração) como diz a música, é o mestre que nós temos é que nos ajuda a avaliar tudo. Quando se faz a experiência, é quando ouvimos o nosso coração. O que o personagem vive na cadeia é um pesadelo, algo que abafa o coração.”
Agora como é possível uma atitude igual a do bispo? Que recebe um condenado por ter roubado. Silvia destaca a beleza desta acolhida, que ajudou o rapaz a olhara o desejo, para o coração dele e que todos nós deveríamos ter essa companhia, essa ajuda. Ela conta que ela já fez a experiência de ser acolhida.
Um outro ponto importante, que foi apresentado no filme é que o bispo (mestre do Jean, quem o guiou) sabe da sua humanidade e que também já foi acolhido e amado nas suas exigências, por isso pode amar o outro. Só amamos, se formos amados. Assim percebemos que “para reconhecer o coração do outro, precisamos primeiro reconhecer o nosso.”
Para mostrar como as humanidades se encontram no filme, Silvia destacou a seguinte fala do bispo (que tem o coração como mestre, que o guiou):
“Quem disse que eu não posso te matar?
Eu também tenho uma humanidade igual a sua,
se você pode errar eu também posso.”
Neste momento Silvia nos convida a olhar para nossa história e ver se alguém viu nossa humanidade. Também esclarece que todos nós temos “exigências que nos são dadas, é da nossa natureza.” Que são aquilo que desejamos: Verdade, beleza, felicidade, justiça e amor. Vejamos as características que ela nos apresentou sobre as exigências, a partir do filme e das músicas:
- São naturais, é estrutural. Ninguém pode tirar de nós os desejos que estão em nosso coração. O coração é bússola, ele guia é um mestre.
“Tirem tudo de nós, mas o coração ninguém tira.”
2. São infinitos e os desejos são insaciáveis.
“Lembro sempre da minha vó, que faleceu no ano que minha filha se casou. Ela dizia: ‘Já imaginou eu ser tataravó? Uaau’. Bom, não basta ser o amor de ser mãe, ser avó, ser bisavó. É sensacional ser tataravó”
3. Ele só descansa quando ele encontra o infinito.
“Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti.”
– Santo Agostinho4. São irredutíveis, impossível se enganar quando olhamos para o coração. Podemos até não o escutar, roubar e fazer algo contrário ao desejo, mas ele vai gritar que não é isso que desejamos.
Então o que é experiência?
“Avaliar e compreender aquilo que eu vivo, para isso me é dado o coração. Com as exigências que vão me apontar, o sentido, o valor daquilo que estou vivendo. Então é preciso estar aberto com aquilo que acontece e julgar aquilo que acontece. (…) É a gente se perguntar.”
O coração é promessa.
Temos muitas distrações nos dias de hoje e por isso a Silvia destaca como é bom ouvir alguém dizer para gente: “O teu coração é promessa de felicidade, e ela acontecerá!”
Mostrando como é importante termos pessoas que nos lembre o desejo do nosso coração, que seja companhia para nós.
Como eu aprendo?
“Ver alguém que vive assim, ouvindo o seu coração, eu aprendo. Aprendo como olhar para realidade, como trabalhar, como conviver com as pessoas. (…) Por isso devemos seguir o mestre Coração e as pessoas que são mestres, que segue o coração delas.
Por isso é importante pensar: quem são essas pessoas?
Deus da essa pessoa para nós, só precisamos reconhecer.
É normal ficarmos nessa espera, nessa curiosidade. Quando se realizada, nos sentimos gratos pelo cumprimento da promessa. Uma gratidão enorme a Deus.”
Silvia concluiu sua fala compartilhando a fala do Papa Francisco na festa Epifania 2022:
“Eis o seu segredo interior: saber desejar. Meditemos nisto. Desejar significa manter vivo o fogo que arde dentro de nós e nos impele a buscar mais além do imediato, mais além das coisas visíveis. Desejar é acolher a vida como um mistério que nos ultrapassa, como uma fresta sempre aberta que nos convida a olhar mais além, porque a vida não é «toda aqui», é também «noutro lugar».
Deus nos ter feito assim: cheios de desejo; orientados, como os Magos, para as estrelas. Podemos dizer, sem exagerar, que nós somos aquilo que desejamos. Porque são os desejos que ampliam o nosso olhar e impelem a vida mais além: além das barreiras do hábito, além duma vida limitada ao consumo, além duma fé repetitiva e cansada, além do medo de arriscar, de nos empenharmos pelos outros e pelo bem. «A nossa vida – dizia Santo Agostinho – é uma ginástica do desejo»”
O segundo momento musical foi antes das perguntas e Renato cantou as músicas: “Timoneiro” do Paulinho da viola e “Andar com fé” de Gilberto Gil.
Logo depois tivemos as respostas das perguntas feitas pela equipe, onde Silvia indicou para assistirmos o Documentário sobre a vida de Vinícius de morais “Vinicius (O filme)”. Ela também falou que:
Encerramos o encontro com a música “Luz do Sol” de Caetano Veloso, também cantando pelo amigo Renato Boechat.
Perguntamos para Rosetta e Vanessa o que elas destacam do encontro:
“A gente não se dá conta dos amigos que nós temos, da riqueza que nós temos. Que são as pessoas, a Silvia e outros. Outra coisa é que se surpreender mesmo com a experiência da gente, com a idade, se surpreender com aquilo que nos carregamos, com os nossos desejos. Como seria simples viver avaliando e comparando com o que carregamos dentro.”
– Rosa Brambilla, fundadora das Obras Educativas
“Reconhecer em mim e nos outros o coração que nos qualifica como pessoas; um coração carregado de exigências de Verdade, Beleza e Justiça e desejo de infinito. Esse coração nos presenteia com os critérios necessários para que possamos fazer uma experiência verdadeira: aquela que nos conduz à descoberta de algo novo e que revela o extraordinário presente em nós.”
– Vanessa, Coordenadora Educativa das Obras Educativas
Retomada janeiro de 2022
Convidada: Silvia Brandão
Filme assistido: Os Miseráveis
Momentos musicais com Renato Boechat:
• Meu mestre Coração, Milton Nascimento
• O que é, o que é, Gonzaguinha
• Luz do sol, Caetano Veloso
• Timoneiro, Paulinho da viola
• Andar com fé, Gilberto Gil