Rosetta fundou as Obras, com a ajuda dos amigos

Rosa Brambilla de Brianza, conhecida também como “Rosetta”, nasceu em 1943 na cidade de Bernareggio na Itália. Em 1967 Rosa se estabeleceu no Brasil como missionária leiga, desde então dedicou-se a serviço das famílias mais pobres das comunidades em São Paulo , Amazônia e Macapá. Em 1978 mudou-se para Belo Horizonte, onde vive até os dias de hoje, no bairro Primeiro de Maio. Aqui com um grupo de amigos, criou e dirigiu a “Pastoral das Favelas” da Igreja de Belo Horizonte, que agregava dezenas de comunidades de base das favelas da cidade, um trabalho de formação e organização contemplando a luta pelos direitos básicos da população carente: habitação, cidadania, regulamentação de terras e urbanização de favelas, ao mesmo tempo fundou as Obras Educativas Padre Giussani e passou a dedicar-se ao resgate da infância das crianças da periferia, tendo como ponto fundamental a forte inclusão da família.

Rosa Brambilla escreveu uma carta em agradecimento a Condecoração, L’Onorificenza Di Grande Ufficiale – Ordem da Estrela da Itália, recebida e descreve sua trajetória de forma emocionante.

“A força da amizade é aquela que pode mudar o mundo!”

– Rosetta Brambilla

Belo Horizonte 25/05/2018

“Este ano é recorrido 50 anos da minha presença no Brasil.

Certamente não foi um projeto meu aquilo que me conduziu até aqui, de fato, nunca teria imaginado partir em missão, e nem mesmo o que me fez permanecer, colaborando para a vida de muitos através das Obras Educativas que surgiram em Belo Horizonte.

Se olho para a minha história, tudo nasceu de um simples ‘sim’ a um encontro excepcional que aconteceu na minha vida: o encontro com Padre Giussani, que me olhou de modo novo, dando à minha vida uma perspectiva grande, que tinha dentro tudo o que eu era.

Olhando esta história, me surpreendo reconhecendo que tudo o que aconteceu, chegando a ser hoje indicada para receber esta homenagem à qual sinto tão desproporcional ao que sou, foi possível por um simples obedecer àquilo que a realidade me propôs.

Quando em 1978, na Favela da Boa União com Padre Pigi, construímos um pequeno barracão multiuso que servia de ambulatório, farmácia, capela e armazém, lá as mulheres vinham procurar remédios, mas, sobretudo para ter a possibilidade de falar com alguém. No diálogo com elas percebi a necessidade que tinham de um lugar seguro onde poderiam deixar seus filhos quando iam trabalhar.

No relacionamento com estas mães tomei para mim as suas necessidades, e isto me moveu a procurar amigos que me pudessem ajudar.

Uma senhora, Dona Etelvina, me cedeu um pedaço de terra enfrente à sua casa e ali começou o primeiro espaço de trabalho com as crianças, sem paredes com pouco recurso. Depois surgiu a primeira Creche e tudo aquilo que existe hoje.

Eu não possuía uma formação de educadora, mas tinha clara a certeza de que era necessário acolher cada criança como se fosse única no mundo, porque de fato é “única”. Isto eu dizia e digo a todos, educadores, cozinheiras, as pessoas da limpeza, porque cada um, por aquilo que é e faz, educa o outro.

No início existiram os sinais que caracterizam o meu caminho, sugeridos por aquilo que cada dia a realidade me colocava à frente, e sempre enfrentados com a ajuda de pessoas que dividiam comigo esta tarefa.

Não foi um caminho plano, nunca. Ano passado tivemos que enfrentar a fadiga e dor de fechar alguns serviços para 300 adolescentes por falta de recursos financeiros.

A homenagem que recebo hoje, menciona a referência aos relacionamentos de amizade entre a Itália e outros países. É bonito intitular um reconhecimento com a palavra ‘amizade’. No fundo é a coisa mais bonita que existe entre as pessoas e, nós não acreditamos, mas é sim, é a coisa mais bonita que pode existir entre aquela multidão de pessoas que são as Nações.

A força da amizade é aquela que pode mudar o mundo.

Posso dizer isto porque comigo aconteceu assim, e nestes anos procurei levar esta amizade da qual fui feita objeto, a todos. É uma amizade entre pessoas, que estimam aquele cerne do fundo do coração de cada homem que os fazem aspirar à verdadeira felicidade. Esta é a ligação mais verdadeira que pode existir entre as pessoas, de cada país, raça ou religião, vinculadas todas a este desejo. E assim essa amizade constrói relações e, estas relações, se tornam vontade de construir juntos algo de belo para os lugares onde vivemos, e estes lugares se tornam experiências, exemplos que pouco a pouco podem mudar a face da terra e das nossas Nações.

Obrigado por este imerecido reconhecimento. É imerecido porque creio que eu não sou só a minha atividade, não sou só as obras que criei, junto com tantos outros. Existe algo a mais que eu não fiz com as minhas mãos, existe uma gratidão a Deus que me deu este dom, esta disponibilidade a este chamado, que não é mérito meu, mas é só mérito Seu. Ter a consciência de ser um instrumento nas mãos do outro nos faz livres de cada resultado, de cada pretensão não alcançada, de cada tentativa boa de mudar as coisas como nós queremos.

Em tudo aquilo que fazemos tem algo de imerecido, porque tudo aquilo que existe em nós nos foi dado, por outro. Por isso, o meu reconhecimento ao Estado Italiano, que sempre esteve atento aos seus compatriotas que operam no mundo. Sentir a própria Pátria sempre perto e sempre atenta é, por certo, um conforto e uma honra. Isso propicia ainda, um conhecimento de tantas situações de necessidade no mundo, e estimula a abertura do coração, das mentes, das competências de tantas pessoas de boa vontade que oferecem a própria contribuição para o desenvolvimento dos povos e nações.

Obrigada, mais uma vez, pela atenção dedicada a nós em todo o mundo!”

Rosa Brambilla